07.jun.2025



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A ação correta - a melhor para um determinado paciente - nem sempre é sinônimo da ação deduzida logicamente ou cientificamente.

Edmund Pellegrino (The Anatomy of Clinical Judgments)

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A Hora da Morte
por Luiz Roberto Londres

Um dos temas mais controvertidos de nossa atualidade médica é como lidar com pacientes graves, sem possibilidades de reversão do processo de morte iminente. Leis e preceitos religiosos proíbem que se abrevie a vida. Para uns isso é entendido como uma imposição de se usar de todos os métodos disponíveis para prolongar a vida do paciente, a qualquer custo. Outros, que se solidarizam com o sofrimento alheio acima do simples prolongamento da vida, defendem a Eutanásia, ou seja, a ação do médico no sentido de abreviar a vida de um ser humano que padece. É deste confronto que apareceram outras denominações, todas com a mesma etimologia derivada do que, para os gregos, era o encontro com Tânatos* (θάνατος - deusa da morte). Vamos discorrer brevemente sobre elas.

Distanásia* é um termo recente, criado para se definir a prática pela qual se continua, através de meios artificiais, a manter a vida de um enfermo sem possibilidades de cura. Vemos atualmente um endeusamento da tecnologia e da ciência, alçando-as a situações quase divinas lado a lado com a desfiguração do ser humano, considerado apenas em sua vida biológica como se fosse só mais um animal. Com isto, tenta-se justificar a manutenção da vida enquanto bate o coração, independentemente da tortura a que o paciente possa estar sendo submetido, das dores de seus familiares e amigos, dos custos desnecessários que estão tendo aqueles que pagam a conta - familiares, empresa, operadoras de saúde ou o próprio governo. O que não se leva em consideração é que a prática da distanásia se dá em função de uma abdicação tanto do raciocínio clínico quanto do bom senso.

A face oposta da moeda é o que há muito se denomina Eutanásia*, que consiste em se abreviar a vida de um paciente sem qualquer chance de recuperação e, visivelmente, em seus momentos finais. Nesses casos, o médico, só ou em conjunto com familiares ou responsáveis, toma medidas ativas para que se encerre o processo vital. A eutanásia, em que pese seu cunho freqüentemente humanitário, é condenada por quase todas as religiões e pelas leis de quase todos os países. Poderia dizer nas entrelinhas: faz sentido, pois ela dá ao médico um, digamos assim, poder divino aliado a um poder secular. Na verdade, a sua condenação visa não o caso em si, isoladamente, mas a possibilidade do crescimento de sua aplicação de maneira crescentemente acrítica e com vieses específicos, não condizentes com a ética médica e com o princípio da não maleficência.

A meio caminho entre distanásia e eutanásia encontra-se o que hoje se chama de Ortotanásia*. Esta conduta é definida como a morte natural, digna, correta, sem interferência da ciência ou da tecnologia, sem provocar danos ou sofrimentos inúteis. Ela dá à atividade médica um sentido mais humano; ou seja, entende as condições do paciente, da doença que o acomete. Além disso, estima a evolução da mesma, considera o prognóstico e aceita que a natureza tem o seu curso soberano, no qual as intervenções humanas e tecnológicas, por melhor que sejam as intenções e por mais modernos que sejam medicamentos e aparelhos, travarão uma luta inglória, para todas as partes, com um destino já anunciado.

Na cultura judaica, Abraão, seguindo um mandamento de D´us, não hesitou em promover a morte de seu próprio filho, só não o fazendo em função de nova intervenção divina. Na cultura cristã, Jesus teria todos os meios para evitar a sua morte, mas não o fez, entregando-se ao destino que lhe estava reservado.

Ivan Illich, um pensador que abrangia em sua história ambas as culturas, fez considerações sobre o tema em um de seus livros, "A Expropriação da Saúde - Nêmesis da Medicina". Gostaria aqui de citar algumas delas:

     "Quando os cuidados médicos e a cura tornam-se monopólios de organizações ou de máquinas, a terapêutica transforma-se inevitavelmente em ritual macabro".

     "A sede de ambrosia (αμβροσία - 'imortalidade') é hoje experimentada pelo comum dos mortais".

     "A medicalização da sociedade pôs fim à era da morte natural. O homem ocidental perdeu o direito de presidir o ato de morrer".

     "A grande maioria dos diagnósticos e intervenções terapêuticas estatisticamente mais úteis do que prejudiciais aos pacientes tem duas características comuns: é pouco dispendiosa e pode ser aplicada facilmente de forma autônoma no seio da célula familiar".

*Obs.: A cultura médica ocidental, nascida na Grécia Antiga, traz em seus termos e origens a nomenclatura grega. Assim, Eutanásia vem ευθανασία - ευ "bom", θάνατος "morte". Os dois outros termos, inexistentes naquele tempo, substituíram o prefixo eu (ευ "bom") por dis  (dýs "difícil") e orto (όρθός "correto").



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